27 de jul. de 2012


O momento é de por fim aos improvisos e enfrentar os grandes problemas
É depositada na conta do estadista mais importante da Alemanhã no século XIX -  Otto von Bismarck a criação do brilhante sistema de seguridade social que imperou na europa durante o século XX. Sua tese, para justificar o estado de bem-estar social, era controlar o avanço do pensamento socialista, que ganhava força no país e poderia contaminar toda a sociedade, levando o continente à ruina. Vitorioso, o chanceler  de ferro não imaginava que suas propostas ousadas – seguro desemprego, seguro saúde, regras vantajosas para a aposentadoria e renda mínima – fossem jogar, num futuro não muito distante, contra os próprios europeus. Mas coube novamente à Alemanha, no início do século seguinte, rever as regras de proteção social para evitar o colapso de sua economia. Apesar das críticas, no sentido inverso daquelas direcionadas a Bismarck, mas não menos fundamentadas, os alemães aceitaram aliviar o peso do Estado para tornar o país mais competitivo no mercado global.

O resto da Europa não teve a mesma clareza do governo alemão para mexer com o bolso do trabalhador em tempo e alterar uma conquista que parecia cláusula pétrea. Mas a conta do estado de bem-estar social chegou. A crise nos EUA, iniciada em 2008, intoxicou as bolsas de valores do outro lado do atlântico e muitos papéis que pareciam sólidos e garantia de investimento seguro em toda a zona do Euro, se desmancharam no ar. Somado a isso, a globalização e o avanço dos países asiáticos passaram a pressionar os países ricos para que se tornassem mais competitivos. Mas como ser competitivo com um custo social tão elevado, com uma carga tributária tão pesada, com uma legislação trabalhista tão rigorosa?
Leves como uma pena, os países emergentes passaram a atrair empresas europeias e roubar empregos do bloco (by China). A capacidade exportadora da europa passou a ser desafiada e sofrer abalos. O desemprego avançou em escala inimaginada na Espanha, Itália e França, só para citar algumas economias fortes que também foram diretamente afetadas pela nova dinâmica estabelecida pela globalização. O único país que parece se garantir nesse cenário de alvoroço social, exatamente porque se antecipou no desmonte das regras rigorosas esquematizadas por Bismarck, é a velha e austera Alemanha. Tanto que o desempenho alemão está desequilibrando a relação comercial junto aos seus vizinhos e há o receio de que sua força leve os países endividados a uma longa onda de austeridade capaz de demolir inclusive a moeda única e elevar a temperatura no continente.
Claro que a aposta dos analistas é de que a Europa encontre uma nova equação e supere o baque sem ter que pagar muito caro por isso. A história bélica do continente joga a favor desse entendimento. No entanto, não há como negar que os europeus precisarão aceitar mudanças nas regras do bem-estar social proporcionado pelo Estado e passar por um período de austeridade, porque, inevitavelmente, os governos endividados precisarão ajustar suas planilhas de custos. Além disso, as empresas precisam ganhar competitividade. Nada é impossível a partir de um novo pacto social. No entanto, um dos problemas apontados pelos mesmos analistas que anteviram a encrenca é que o velho continete não tem mais grandes líderes capazes de arregimentar as massas e convencer uma população também envelhecida. Por isso, reina a insegurança diante de líderes comuns, poucos carismáticos e com propostas de solução pouco convincentes.
Enquanto isso, o governo Brasileiro acompanhou tudo o que acontecia sem pestanejar, acreditando que o problema era dos países ricos. Só que a globalização não poupa ninguém e a nossa economia também está sendo atingida. A exportações de produtos manufaturados está em queda livre e o mercado interno, que era visto como o grande esteio de prosperidade, começa a mostrar seus limites. A indústria está na lona e a instabilidade no preço das commodities tem prejudicado inclusive o agronegócio, que é um exemplo de eficiência. Portanto, o momento para nós também é de rever a ação do Estado e das regras de bem-estar social. Se por um lado estamos longe de um engessamento rigoroso da Europa, por outro, temos a grande desvantagem da ineficiência nos investimentos públicos e do gigantismo da máquina estatal. A falta de planejamento oficial tem levado a ações isoladas de redução tributária e ampliação nas linhas de crédito para estimular o consumo, com resultados imprevisíveis, para não dizer inexpressivos.
Os analistas que já previam essa situação colocam o dedo na ferida: O governo cobra muito imposto e investe muito mal, por isso não tem mais como adiar. Está na hora de rever o papel do Estado e de fortalecer o mercado, com menos intervenção na economia e mais incentivo ao empreendedorismo e à formação empreendedora. Longe de Bismarck e longe da eficiência, o governo brasileiro precisa se inspirar no que de melhor vem sendo feito no mundo rico para enfrentar a crise. O planejamento de médio e longo praso e a austeridade na máquina pública pode ser a resposta, pois a competitividade está sempre no lado oposto do receio de enfrentar os grandes problemas, como bem ensinaram os Alemães.  

Luiz Antonio Balaminut
Contador e Advogado
019-2105.1000

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