20 de ago. de 2012


Mudança de postura e choque de capitalismo
O governo federal está preparando seu pacote de ações para tentar alavancar a produção industrial brasileira, que vem perdendo espaço para os importados desde a crise de 2008, tanto no mercado interno como no mercado externo.
Desta vez, depois de tanta insistência dos especialistas, o foco sai do estímulo ao consumo e passa para a capacidade competitiva. Porque ficou mais do que evidente que o nível de endividamento das famílias está além do limite e, por isso, se esgotou a eficácia da estratégia de superar a crise pelo carnê de crediário.
O Ministério da Fazenda deve deixar de lado, portanto, o fomento ao crédito pessoal, o empenho para a redução de juros bancários e medidas pontuais, como redução temporária do IPI, para estimular o consumo em setores de maior apelo popular, como carros e eletrodomésticos.
A guinada oficial segue agora um plano ousado, traçado em consenso com os grandes empresários, e visa estimular investimentos maciços do setor privado na remoção dos gargalos do sistema de logística nacional, via privatização de portos, aeroportos e rodovias.
Além de estimular parcerias entre o setor público e privado (PPP), o governo estuda a redução da carga tributária de forma homogênea, a desoneração da folha de pagamento, alguma desburocratização no sistema tributário e trabalhista, além de investimentos na formação mão de obra.
Assim no papel parece tudo muito fácil e bonito e conforme o que se esperava de um governo forte e atuante. Claro, não fossem as dificuldades do próprio executivo para resolver os impasses internos quanto ao melhor caminho a seguir. A falta de convicção de suas lideranças sobre essa proposta pode ser sentida logo de início quando a palavra privatização vem à tona.
Não podemos esquecer que a presidente Dilma Rousseff foi eleita execrando o termo privatização, que foi colocado como algo da oposição e maléfico ao país. Agora precisa reconhecer o equívoco e convencer a ala mais radical do petismo, que ainda apita nas decisões, que a medida é inevitável.
Para facilitar a mudança de rumo, a saída está sendo maquiar o “mal” com o pseudônimo “concessão”. Esta seria uma forma de não provocar a militância com algo que ela não assimila facilmente. Até aí tudo bem, dá-se um jeito.
Outro problema é que os gastos excessivos com a máquina pública, a má gestão e a insistência nas políticas públicas de incentivo ao consumo pulverizaram os recursos oficiais. Com a crise e a consequente queda na arrecadação, o governo não está sabendo de onde tirar os recursos para o plano.
Além disso, há ainda a crise internacional que só tem intensificado a insegurança em relação ao futuro, porque está dilapidando o PIB com a queda nas exportações de produtos manufaturados.
A paradeira na Europa e nos EUA fez com que as empresas estrangeiras passem a dar prioridade máxima ao comércio em países emergentes, que ainda têm algum fôlego para o consumo. Com isso, os importados estão tomando conta do país.
Quanto mais a crise externa se acentua e compromete a produção nacional, menos recurso o governo vai tendo par investir e menos margem de manobra para agir. É uma prova de que o governo acordou tarde para a realidade.
Na teoria se diz que mesmo assim o governo tem que colaborar para que o país se prepare estrategicamente para quando a crise for embora. Com maior capacidade competitiva, não ficaríamos muito defasado em relação ao mundo.
Se deixarmos a coisa como está para ver como é que fica, passada a crise estaríamos no pior dos mundos. Sem musculatura para fazer frente à concorrência e ficaríamos presos apenas às commodities, como já acontece desde o Império.
Entre os tempos do Império e o futuro pós-crise, o governo precisa se posicionar. Tudo indica que Dilma está disposta a fazer essa transição sem apostar mais em invencionices e ideias que só fazem sentido em laboratório e na cabeça dos seus assessores ideológicos

Luiz Antonio BalaminutContador e Advogado019-2105.1000luiz@balaminut.com.br

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