Mudança de postura e choque de capitalismo
O
governo federal está preparando seu pacote de ações para tentar alavancar a
produção industrial brasileira, que vem perdendo espaço para os importados
desde a crise de 2008, tanto no mercado interno como no mercado externo.
Desta
vez, depois de tanta insistência dos especialistas, o foco sai do estímulo ao
consumo e passa para a capacidade competitiva. Porque ficou mais do que
evidente que o nível de endividamento das famílias está além do limite e, por
isso, se esgotou a eficácia da estratégia de superar a crise pelo carnê de
crediário.
O Ministério
da Fazenda deve deixar de lado, portanto, o fomento ao crédito pessoal, o
empenho para a redução de juros bancários e medidas pontuais, como redução
temporária do IPI, para estimular o consumo em setores de maior apelo popular,
como carros e eletrodomésticos.
A
guinada oficial segue agora um plano ousado, traçado em consenso com os grandes
empresários, e visa estimular investimentos maciços do setor privado na remoção
dos gargalos do sistema de logística nacional, via privatização de portos, aeroportos
e rodovias.
Além
de estimular parcerias entre o setor público e privado (PPP), o governo estuda
a redução da carga tributária de forma homogênea, a desoneração da folha de
pagamento, alguma desburocratização no sistema tributário e trabalhista, além
de investimentos na formação mão de obra.
Assim
no papel parece tudo muito fácil e bonito e conforme o que se esperava de um
governo forte e atuante. Claro, não fossem as dificuldades do próprio executivo
para resolver os impasses internos quanto ao melhor caminho a seguir. A falta
de convicção de suas lideranças sobre essa proposta pode ser sentida logo de
início quando a palavra privatização vem à tona.
Não
podemos esquecer que a presidente Dilma Rousseff foi eleita execrando o termo
privatização, que foi colocado como algo da oposição e maléfico ao país. Agora
precisa reconhecer o equívoco e convencer a ala mais radical do petismo, que
ainda apita nas decisões, que a medida é inevitável.
Para
facilitar a mudança de rumo, a saída está sendo maquiar o “mal” com o
pseudônimo “concessão”. Esta seria uma forma de não provocar a militância com
algo que ela não assimila facilmente. Até aí tudo bem, dá-se um jeito.
Outro
problema é que os gastos excessivos com a máquina pública, a má gestão e a
insistência nas políticas públicas de incentivo ao consumo pulverizaram os
recursos oficiais. Com a crise e a consequente queda na arrecadação, o governo
não está sabendo de onde tirar os recursos para o plano.
Além
disso, há ainda a crise internacional que só tem intensificado a insegurança em
relação ao futuro, porque está dilapidando o PIB com a queda nas exportações de
produtos manufaturados.
A
paradeira na Europa e nos EUA fez com que as empresas estrangeiras passem a dar
prioridade máxima ao comércio em países emergentes, que ainda têm algum fôlego
para o consumo. Com isso, os importados estão tomando conta do país.
Quanto
mais a crise externa se acentua e compromete a produção nacional, menos recurso
o governo vai tendo par investir e menos margem de manobra para agir. É uma
prova de que o governo acordou tarde para a realidade.
Na
teoria se diz que mesmo assim o governo tem que colaborar para que o país se
prepare estrategicamente para quando a crise for embora. Com maior capacidade
competitiva, não ficaríamos muito defasado em relação ao mundo.
Se
deixarmos a coisa como está para ver como é que fica, passada a crise
estaríamos no pior dos mundos. Sem musculatura para fazer frente à concorrência
e ficaríamos presos apenas às commodities, como já acontece desde o Império.
Entre
os tempos do Império e o futuro pós-crise, o governo precisa se posicionar.
Tudo indica que Dilma está disposta a fazer essa transição sem apostar mais em
invencionices e ideias que só fazem sentido em laboratório e na cabeça dos seus
assessores ideológicos
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