Ainda há tempo para superar
tudo isso
Informações não bastam, é preciso compreender a realidade para que
elas façam sentido. Compreender a realidade não basta, é necessário traçar boas
estratégias para mudá-la. Estratégias só funcionam se considerarmos experiências
acumuladas no enfrentamento dos problemas que se pretende superar, para não
incorrer em novos. Conhecer as
experiências acumuladas requer formação e estudo. Formação não basta, pois sem
valores e princípios democráticos, as interpretações e ações podem nos levar a
desvios de conduta. O cenário, quando se deteriora, exige novas informações,
novas estratégias e novas experiências. O fardo vai ficando mais pesado e mais
difícil de carregar.
Desde Sócrates se discute o bem e o mal num processo dialético
para se construir uma sociedade justa e o homem de amanhã. Desde Sócrates se
aposta no conhecimento e na sabedoria dos líderes para que a sociedade avance.
A ciência e a filosofia são pilares de um processo permanente de mudança. Por
isso, a organização social e as instituições de ensino precisam estar imbuídas
nessa missão, sendo as leis delineadas para dar segurança e potencializar o
indivíduo, com seus direitos e deveres. As boas iniciativas costumam ser
consequência desse ambiente propício, em que impera a transparência, a crença
no futuro, o estímulo ao empreendedor.
Como observou Bertrand Russell, houve um período na história
moderna em que a ciência se distanciou da filosofia e a capacidade inventiva se
desgarrou dos princípios humanísticos. A guerra ganhou forte aliada: a ciência.
Os conflitos entre os povos tornaram-se bem mais perigosos e o fim do mundo
chegou a ser bem mais do que vislumbre religioso. Sorte que a civilização
ocidental, baseado em valores comuns, predominou e conseguiu o armistício entre
seus adeptos. Os focos de guerra, no entanto, permanecem espalhados pelo mundo,
em sua maioria justificados por conflitos de valores avessos ao indivíduo.
O mercado – estruturado no indivíduo e sua capacidade de consumo –
abriu, no ocidente, as portas para um mundo novo. Os países que souberam
equilibrar essa lógica com boas escolas e formação sadia aos seus cidadãos
conseguiram se destacar no cenário, pois ganharam poder para competir e
conquistar espaço, garantindo o bem-estar geral. Como uma cabala, que se
modifica constantemente a partir da interação e da reinterpretação dos códigos
sociais, surgiram no cenário mundial novos pontos de estrangulamento nas
relações humanas, baseadas não só em conflitos de valores como também no
desequilíbrio econômico. O sistema capitalista ainda não conseguiu criar
mecanismos regulatórios suficientes para evitar desvios que pudessem,
inclusive, colocar em dúvida sua própria funcionalidade.
A insegurança conceitual e a falta de organização interna para se
proteger em momentos de instabilidades levaram muitos países ao desarranjo
interno. O mundo se tornou bem mais complexo. Nessa miríade de sinais
entrecruzados os cientistas sociais tentam dar explicações ao que acontece e
apontar caminhos. Nem sempre os caminhos apontados se encontram ou se
completam. Por isso, a sensação de mal-estar coletivo tem ganhado força. No
caso do Brasil, falta estratégia do governo para acompanhar a realidade e dar
respostas em tempo real aos problemas que surgem. Somos uma sociedade moderna,
democrática e criativa, mas nossos mecanismos sociais ainda são relativamente
frágeis. O sistema educacional é muito falho e as lideranças públicas não
conseguem convergir para as ações que potencializariam nossa capacidade
produtiva e competitiva. Por trás disso há, sem dúvida, choque de valores,
certo despreparo e falta de determinação. Além de um pouco de má-fé.
Ainda em relação ao o que acontece no Brasil. Os problemas se
avolumam não por falta de informação nem capacidade analítica. Carecemos sim de
estratégias e liderança. Estamos presos ao populismo, que é o caminho mais
seguro para o fracasso. Falta-nos uma pitada de Sócrates, muito de Pitágoras e
Newton. A ciência, a filosofia e o conhecimento prático, que deveriam ser a
razão de existir das escolas, estão dominados pelo corporativismo e pelo
coletivismo improdutivo. Nas ruas impera o cada um por si, movido pelo
analfabetismo funcional. A militância dogmática também fala mais alto nos
movimentos ambientalistas e sindicais. O estado, tentando unir alhos com
bugalhos, perde em eficiência. Os empresários, em um cenário tão adverso, lutam
como podem para sobreviver.
O Brasil sofre por falta de objetividade e de definição de rumo.
Os recursos públicos são mal direcionados exatamente por isso, o que facilita a
ação dos corruptos. O choque de cultura, o sincretismo, que deveria nos tornar
fortes, o país do futuro, como dizia Stefan Sweig, nos anos 40, está nos
levando ao caminho do meio, que é o mais longo caminho para se chegar a lugar
nenhum. Apesar de tudo, o momento não é para se desiludir, mas sim, refletir
sobre os desperdícios e agir rapidamente. Não podemos mais perder tempo.
Afinal, a população envelhece. Como dizem os analistas, corremos o sério risco
de chegarmos à velhice carregando o farto da pobreza. Ainda há tempo para
superar tudo isso.
Luiz Antonio Balaminut
Contador e Advogado
019-2105.1000
luiz@balaminut.com.br
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