27 de jul. de 2012


Ainda há tempo para superar tudo isso
Informações não bastam, é preciso compreender a realidade para que elas façam sentido. Compreender a realidade não basta, é necessário traçar boas estratégias para mudá-la. Estratégias só funcionam se considerarmos experiências acumuladas no enfrentamento dos problemas que se pretende superar, para não incorrer em novos.  Conhecer as experiências acumuladas requer formação e estudo. Formação não basta, pois sem valores e princípios democráticos, as interpretações e ações podem nos levar a desvios de conduta. O cenário, quando se deteriora, exige novas informações, novas estratégias e novas experiências. O fardo vai ficando mais pesado e mais difícil de carregar.
Desde Sócrates se discute o bem e o mal num processo dialético para se construir uma sociedade justa e o homem de amanhã. Desde Sócrates se aposta no conhecimento e na sabedoria dos líderes para que a sociedade avance. A ciência e a filosofia são pilares de um processo permanente de mudança. Por isso, a organização social e as instituições de ensino precisam estar imbuídas nessa missão, sendo as leis delineadas para dar segurança e potencializar o indivíduo, com seus direitos e deveres. As boas iniciativas costumam ser consequência desse ambiente propício, em que impera a transparência, a crença no futuro, o estímulo ao empreendedor.
Como observou Bertrand Russell, houve um período na história moderna em que a ciência se distanciou da filosofia e a capacidade inventiva se desgarrou dos princípios humanísticos. A guerra ganhou forte aliada: a ciência. Os conflitos entre os povos tornaram-se bem mais perigosos e o fim do mundo chegou a ser bem mais do que vislumbre religioso. Sorte que a civilização ocidental, baseado em valores comuns, predominou e conseguiu o armistício entre seus adeptos. Os focos de guerra, no entanto, permanecem espalhados pelo mundo, em sua maioria justificados por conflitos de valores avessos ao indivíduo.
O mercado – estruturado no indivíduo e sua capacidade de consumo – abriu, no ocidente, as portas para um mundo novo. Os países que souberam equilibrar essa lógica com boas escolas e formação sadia aos seus cidadãos conseguiram se destacar no cenário, pois ganharam poder para competir e conquistar espaço, garantindo o bem-estar geral. Como uma cabala, que se modifica constantemente a partir da interação e da reinterpretação dos códigos sociais, surgiram no cenário mundial novos pontos de estrangulamento nas relações humanas, baseadas não só em conflitos de valores como também no desequilíbrio econômico. O sistema capitalista ainda não conseguiu criar mecanismos regulatórios suficientes para evitar desvios que pudessem, inclusive, colocar em dúvida sua própria funcionalidade.
A insegurança conceitual e a falta de organização interna para se proteger em momentos de instabilidades levaram muitos países ao desarranjo interno. O mundo se tornou bem mais complexo. Nessa miríade de sinais entrecruzados os cientistas sociais tentam dar explicações ao que acontece e apontar caminhos. Nem sempre os caminhos apontados se encontram ou se completam. Por isso, a sensação de mal-estar coletivo tem ganhado força. No caso do Brasil, falta estratégia do governo para acompanhar a realidade e dar respostas em tempo real aos problemas que surgem. Somos uma sociedade moderna, democrática e criativa, mas nossos mecanismos sociais ainda são relativamente frágeis. O sistema educacional é muito falho e as lideranças públicas não conseguem convergir para as ações que potencializariam nossa capacidade produtiva e competitiva. Por trás disso há, sem dúvida, choque de valores, certo despreparo e falta de determinação. Além de um pouco de má-fé.
Ainda em relação ao o que acontece no Brasil. Os problemas se avolumam não por falta de informação nem capacidade analítica. Carecemos sim de estratégias e liderança. Estamos presos ao populismo, que é o caminho mais seguro para o fracasso. Falta-nos uma pitada de Sócrates, muito de Pitágoras e Newton. A ciência, a filosofia e o conhecimento prático, que deveriam ser a razão de existir das escolas, estão dominados pelo corporativismo e pelo coletivismo improdutivo. Nas ruas impera o cada um por si, movido pelo analfabetismo funcional. A militância dogmática também fala mais alto nos movimentos ambientalistas e sindicais. O estado, tentando unir alhos com bugalhos, perde em eficiência. Os empresários, em um cenário tão adverso, lutam como podem para sobreviver.
O Brasil sofre por falta de objetividade e de definição de rumo. Os recursos públicos são mal direcionados exatamente por isso, o que facilita a ação dos corruptos. O choque de cultura, o sincretismo, que deveria nos tornar fortes, o país do futuro, como dizia Stefan Sweig, nos anos 40, está nos levando ao caminho do meio, que é o mais longo caminho para se chegar a lugar nenhum. Apesar de tudo, o momento não é para se desiludir, mas sim, refletir sobre os desperdícios e agir rapidamente. Não podemos mais perder tempo. Afinal, a população envelhece. Como dizem os analistas, corremos o sério risco de chegarmos à velhice carregando o farto da pobreza. Ainda há tempo para superar tudo isso.
Luiz Antonio Balaminut
Contador e Advogado
019-2105.1000
luiz@balaminut.com.br

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