29 de jun. de 2011

O estresse como agente mobilizador de iniciativas



Duas pesquisas recentes mostram a dinâmica da indústria brasileira para se ajustar à conjuntura. A reação pela competitividade e conquista de novos mercados tem sido diferente dependendo dos fatores que dificultam o desempenho de cada setor. De forma geral, a inovação tecnológica, de processos e de produtos tem sido intensa, principalmente neste ano. Mas há indícios também de bases produtivas exportadoras em fase de desindustrialização vitimadas pelo cambio e juros desfavoráveis.

Pesquisa da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), por exemplo, revela mudança na estratégia da indústria paulista, que tem apostado na melhoria dos processos e de produtos para ampliar a competitividade, ao invés de continuar investindo em máquinas e equipamentos, como vinha fazendo até 2010. O passo é visto como uma ação defensiva frente às barreiras da política econômica adotada pelo país, que devem continuar dificultando o desempenho produtivo.
As indústrias mais afetadas pelo aumento das importações veem na inovação o caminho para enfrentar a concorrência externa e investem na procura de novos produtos ou modelos com os quais possam se diferenciar. Outras investem em processos que lhes deem maior eficiência e menores custos, igualmente para enfrentar os produtos que chegam de fora. “Como aumentou significativamente a concorrência com os importados, torna-se necessário diferenciar produtos em termos de qualidade ou criar produtos capazes de reduzir os custos de produção", resume a Fiesp.

Segundo a pesquisa, estão investindo no desenvolvimento de novos produtos os setores de couros, máquinas e equipamentos, madeira, veículos, borracha e plásticos. Já os setores de alimentos e bebidas, eletrônicos e informática, metalurgia e têxtil devem concentrar seus investimentos na inovação de processos produtivos, para reduzir os custos de produção. As indústrias menos afetadas pelo aumento da entrada de produtos importados preferem manter a estratégia que vinham seguindo, de aumento do faturamento com expansão da capacidade produtiva. Estão nesse caso indústrias dos setores de papel e celulose, açúcar e álcool e móveis.

Estudo dos economistas do BNDES, Fernando Puga e Gilberto Barça, mostra, por outro lado, forte investimento em máquinas, equipamentos e bens de capital em setores que se aproveitam da expansão do mercado interno, como petróleo e gás natural, material elétrico, telecomunicações e indústria extrativa mineral. O estudo identifica que a modernização da indústria de transformação, que tem enfrentado a concorrência desleal de produtos chineses é de menor vulto e onde tem havido maior desindustrialização.

O empenho dos empreendedores para sobreviver em um cenário adverso demonstra vitalidade. No entanto, deixa clara a necessidade do estresse conjuntural como agente mobilizador de iniciativas modernizantes. Esse ritmo poderia ser fortalecido e melhor direcionado se o país tivesse uma política industrial, com plano de metas e incentivos adequados para cada setor. No entanto, o que se vê é uma demonstração de que o desenvolvimento nacional é fruto da criatividade dos empresários para escapar das pressões criadas pelo próprio governo, que deveria ser um aliado.

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