Apesar do discurso regulado do ministro da Fazenda, Guido Mantega, e do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, para tentarem demonstrar firmeza no combate à inflação, o governo começa a revelar dificuldades para esconder sua indisposição com métodos ortodoxos de controle da economia.
Como já tem sido apontado por analistas, um dos equívocos da dupla foi considerar a disparada na cotação das commodities e do petróleo no mercado internacional como resultado de ações especulativas, quando na verdade o consumo desses produtos está aumentando muito, o que tem forçado a alta nos preços.
O que parece apenas um erro periférico torna-se uma falha grave, porque distorce a leitura da realidade e dificulta a definição de uma estratégia mais eficaz para que o país não seja prejudicado. É o que está acontecendo, porque a inflação foge do controle a cada dia à revelia das ações do governo. E tende a subir ainda mais se nada de consistente for feito para contê-la.
O pano de fundo desse enredo não é novidade para ninguém. O governo brasileiro enfrentou a crise de 2008, que abalou gravemente os países ricos, com a ampliação do crédito bancário e da renda. Só que na ocasião os indicadores econômicos estavam relativamente sob controle. Mas nada foi pensado para compensar as medidas keynesianas.
A crença em um mercado interno forte é até salutar, quando não se torna uma fantasia. O dinheiro facilitado pelos bancos aos consumidores foi levantado no mercado externo, onde o dólar estava farto e com juro bem em conta. Só que a tendência é os bancos começarem a se precaver do risco de levantar recursos assim, devido ao desequilíbrio cambial.
Uma reversão no quadro cambial, com a mudança na política econômica dos países ricos e a fuga de dólar do país, possibilidade que não é novidade para ninguém, pode ser vital para o sistema financeiro nacional e para o próprio governo, que alimenta uma dívida interna astronômica com dólar especulativo.
Só que no momento, essa máquina de atrair dólar não pode ser desmontada sob pena de não haver recurso suficiente para o país se preparar para a Copa do Mundo e Olimpíadas, o que seria um vexame colossal para o governo Dilma. O corte mais radical na máquina de alimentar o eleitorado de baixa renda com assistencialismo seria um tombo mortal para o PT. Sendo assim, o BC e o ministério da Fazenda continuam brincando de conter a inflação.
A aposta na sorte não é a melhor política para um país sério. No médio prazo a realidade pode continuar favorável e tudo correr como se o Brasil fosse abençoado pela própria natureza. Sem ninguém tendo que trabalhar pesado para reverter o Custo Brasil. Mas no longo prazo, estamos caminhando para o retrocesso. Os indicadores econômicos estão piorando. Mais uma crise internacional e, pronto. Da próxima vez o governo não estará com o mesmo gás para distribuir dinheiro barato, mantendo uma política keynesiana que está com seu fôlego no limite.
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