28 de fev. de 2011

Reciclagem, um negócio rentável?

Lentamente, caminha o processo de regulamentação das regras para a devolução do lixo da indústria à reciclagem. Na semana passada o Ministério do Meio Ambiente instalou o Comitê Orientador de Logística Reversa, composto por representantes do próprio ministério, além dos ministérios da Saúde, da Fazenda, da Agricultura e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. A intenção é abrir frentes de diálogo com os vários setores industriais para encontrar soluções de responsabilidade compartilhada que não onerem tanto as partes envolvidas e simplifiquem o processo de gestão do lixo, até que ele retorne à cadeia produtiva como matéria prima.
A lei prevê a aplicação breve da logística reversa para as cadeias produtivas de agrotóxicos, pilhas e baterias, pneus, óleos lubrificantes, lâmpadas e produtos eletroeletrônicos. Mas o desejo é que até 2014 os municípios façam coleta seletiva e acabem com os lixões, onde os resíduos são despejados sem nenhuma triagem anterior. De acordo com o governo, em junho, o comitê deve apresentar o cronograma e os editais para os acordos com cada setor. “O foco prioritário inicial serão pilhas e baterias, lâmpadas e a área de eletrônicos. Já temos ações voluntárias em alguns setores, mas vamos regulamentar como será em todo o país a retirada desses produtos do meio ambiente”, disse a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira.  
A PNRS levou 20 anos em tramitação no Congresso Nacional e foi aprovada somente no ano passado. A expectativa dos ambientalistas é que ela entre em vigor o mais rápido possível. No entanto, no plano empresarial, há muitas dúvidas sobre competências e quem vai pagar a conta.
Em termos práticos, as discussões sobre reciclagem têm avançado bastante em todo o país. Afinal de contas, não se trata de assunto novo, apesar de sua baixa aplicação. Para descomplicar a vida das pessoas, vários excessos estão sendo revistos. Como por exemplo, a idéia de que o descarte precisa ser lavado e separado em compartimentos distintos, popularizados pelas lixeiras coloridas, o que facilitaria a identificação de cada material. O resultado, com base nesse procedimento, tem sido a confusão, porque as pessoas têm dificuldade para saber o que vai aonde e acaba misturando tudo: resíduos sólidos com resíduos orgânicos, plástico com alumínio, papel com metal, enfim. A combinação fica por conta do acaso e da pressa no momento do descarte.
De uma forma ou de outra, todos querem fazer sua parte, mas quando a burocracia é muito grande, mesmo em casa, poucos têm tempo para se dedicar ao trabalho, apesar de considerá-lo nobre. Mas a boa notícia, se vingar, é que a separação pode ser feita em apenas duas categorias: lixo seco e lixo molhado. Ou seja, orgânico de inorgânico. “A separação por materiais é uma bobagem. Não sei quem inventou essa história de cor pra lá, cor pra cá”, diz Maurício Waldman, autor do livro Lixo: cenários e desafios. Afinal de contas, há lixos recicláveis que se enquadram em quase todas as categorias ao mesmo tempo, como as embalagens de leite. A TetraPak é um composto de papel, alumínio e plástico.
Como observou Celso Ming em artigo recente ao Estadão, há outro aspecto questionável na forma como éramos orientados a tratar o lixo reciclável. Ambientalmente faz sentido você gastar dois copos de água limpa para lavar um copo de água suja? Ou seja, não faz sentido ficar lavando embalagens antes de separá-la? Afinal de conta, não estamos pensando em economizar água limpa? Seria um contra-senso, que já vem sendo revisto.
Sendo assim, Waldman, afirma que o correto seria juntar tudo que é reciclável num mesmo balaio e a separação deve ficar por conta dos centros de triagem, por pessoal competente, que sabe o que pode e o que não pode seguir junto. Há uma tendência, portanto, de profissionalização dos centros de reciclagem. Segundo um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o País perde R$ 8 bilhões por ano quando deixa de aproveitar os resíduos recicláveis que estão disponíveis. O desperdício, no entanto, só poderá ser reduzido quando a responsabilidade for de fato compartilhada, sem exageros que possam comprometer o desempenho a economia. A nova lei não pode ser entendida também como um recurso para enquadrar as empresas, como se elas fossem inimigas do meio ambiente. O equilíbrio só se sustentará se a reciclagem se tornar um negócio, rentável.

Nenhum comentário:

Postar um comentário