3 de fev. de 2011

Brasil das casas que despencam dos morros

Há pelo menos 20 anos a ONU tem alimentado discussões acaloradas sobre desenvolvimento. Com o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), criado pelo economista paquistanês Mahbub ul Haq, em 1990, os parâmetros para avaliar a riqueza de um país saiu da esfera meramente financeira e se voltou à qualidade de vida das pessoas.
A renda per capita deixou de ser o único parâmetro para orientar o ranking dos melhores países para se viver e vários outros benefícios passaram a refletir se uma comunidade leva uma vida saudável ou não. Tais como moradia, saneamento, escolaridade, alimentação, expectativa de vida, enfim. O fato de um país ser considerado rico, por ter um PIB elevado, nem sempre é sinônimo de enriquecimento geral, de que sua população vive condignamente.  
Apesar de os EUA e a China estarem no topo do ranking do PIB, não lideram o ranking de IDH. O país comandado por Barack Obama ainda não faz feio, porque sai do topo da primeira escala e vai para o quarto lugar da segunda. Mas o caso China é gritante. Sai do segundo lugar no quesito poderio econômico e cai para 89º lugar, junto aos países de IDH considerado médio, quando o assunto está relacionado às condições de vida dos chineses.
O Brasil, apesar ser considerado um país com IDH alto, pela ONU, está na 73º posição do ranking, ao lado de países inexpressivos. Enquanto seu PIB está na 8ª posição dentre os países ricos. Esta contradição é fácil de ser compreendida quando se percebe que o país não é homogêneo e sua desigualdade de renda ainda é gritante.
Roberto Pompeu de Toledo escreveu, em artigo recente, que a sorte do Brasil é que o IDH não leva em consideração as casas que desabam dos morros durante o verão, senão nossa posição perante a ONU também desabaria no ranking geral. Mesmo assim, estamos atrás de pobretões da Europa do leste, como Romênia, Sérvia e Bulgária.
A China, por sua vez, não é um país democrático, tem um povo controlado pela ditadura centralista de Hu Jintao e somente agora parece estar se abrindo para que a grande massa de sua população deixe os alagados de arroz e as cavernas escuras de mineração para ter na mesa algo além do alimento que lhe garante a sobrevivência.
Ou seja, o Brasil está muito melhor que China em termos de qualidade de vida, porque garante um ambiente de liberdade, mesmo assim, está bem distante dos países que alcançaram um estágio superior de desenvolvimento humano, como a Dinamarca, Austrália e a Nova Zelândia, porque o número de brasileiros que levam uma vida de insegurança é muito alto.
E não haverá avanço social por aqui a partir do simples crescimento do PIB –- apesar de ele ser extremamente importante -- se não houver políticas públicas que cheguem até esses brasileiros desprotegidos; enquanto continuarmos na lista dos países com casinhas que despencam facilmente do morro em tempo de chuva, causando a morte estúpida de pessoas do bem; enquanto não conseguirmos ensinar nossos jovens a ler, calcular e compreender os fenômenos naturais.
Se assim continuar, é sinal de que os nossos governantes populistas continuarão figurando como fenômenos de crítica e público por saberem calcular exatamente o limite de seus medíocres feitos, por conseguirem impor uma leitura equivocada de suas ações, como se fossem verdadeiras revoluções sociais. Por conseguirem nos iludir de que o Brasil é um emergente, quando na verdade não passa de um país pobre e incapaz de enterrar seus próprios mortos.

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