5 de jan. de 2011

A oposição ao governo está no próprio governo

Não há nada de novo na queda de braço entre a equipe econômica do governo e as lideranças do PMDB em relação ao salário mínimo. Na genética do partido, aparentemente comandado por Michel Temer, está a necessidade do poder. Sua estrutura depende dessa simbiose com a máquina administrativa para se manter e é natural que aproveite um governo comandado por alguém inexperiente em política para tentar se posicionar.
O novo nesse jogo é o partido de Dilma Rousseff também ter se revelado tão fisiológico quanto o partido que lhe dá sustentação. Durante o governo Lula essa conduta já era visível, mas o presidente ditava as regras e não era levado por pressões localizadas. Nem do PT, nem do PMDB. Agora, quem dita regras é o partido. Ou melhor, são os dois partidos. O fato é que na disputa entre lobos sedentos por recursos públicos, o PT levou a melhor no primeiro escalão e o PMDB está mostrando seus dentes na esperança de ser compensado no segundo. Senão...

Pelo que se nota na movimentação de bastidores, não há nenhuma relação republicana entre os dois blocos. E olha que o sentimento republicano, citado por Antonio Palocci em ocasião recente, estava relacionado à conduta da oposição, que deveria, segundo o chefe da Casa Civil, ter uma visão de interesse nacional e não ser uma oposição sistemática ao governo. Ele sequer tocava no fato de a briga estar na própria base governista.

Está claro que, se Dilma Rousseff não mostrar a que veio logo no início, corre o risco de ter um governo vulnerável, o que é muito ruim para a governabilidade. Dizer que Palocci ou Clovis Carvalho serão os homens fortes, que saberão agir no momento certo, é muito pouco. Pois a chantagem do PMDB – de querer um salário mínimo de R$ 580 e não de R$ 540, como é a proposta original –, se bem sucedida, evidenciará sua intenção de comandar o processo e não ser coadjuvante. O pior. Sem se responsabilizar, com isso, pelo desequilíbrio que provocará no orçamento.

O PMDB já disse desde o início que não quer ser subordinado ao PT e sim, governar junto. Mas uma vitória sobre um assunto de interesse popular, como o valor do salário mínimo, pode configurar que, mais do que governar junto, o PMDB quer dar as cartas do jogo. O que vai exigir de Dilma habilidade para não quebrar a relação de aliança. Ao mesmo tempo, habilidade para não perder de vista o interesse maior da sociedade, que é o controle da dívida pública.

Serão quatro anos de muito trabalho, que precisariam ser bem coordenados. Qualquer solavanco poderá colocar a máquina em descompasso e atravancar o processo. É interessante que o estranhamento entre os aliados tenha acontecido agora no começo, porque ainda dá tempo para acertar os pontos, sem desmontar a estratégia desenhada pelo governo.

Na prática, estamos acompanhando qual dos dois partidos têm a melhor estratégia nessa luta de interesse entre agremiações fisiológicas. Em breve, saberemos se haverá algum resquício de republicanismo nesse relacionamento, que leve ao entendimento civilizado e de interesse nacional. Vale reforçar que os sinais indicam que a oposição ao governo está no próprio governo.

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