Na primeira edição de dezembro, a revista Veja trouxe, nas páginas amarelas, uma boa entrevista com Jim Collins – analista econômico de destaque no mundo das grandes corporações – sobre “A era da tremenda incerteza”, em que ele fala sobre a dificuldade dos empresários para agir em ambientes imprevisíveis.
Depois de reforçar a tese de que vivemos um período de globalização radical de coisas boas e ruins, Collins diz que o Brasil e a Índia têm tudo para levar vantagem no enfrentamento da crise que atingiu os grandes centros econômicos, caso ela se espalhe, exatamente devido à versatilidade de nossos empreendedores para sobreviver em ambientes adversos.
Ele destaca que a vida nunca foi fácil ao empreendedor brasileiro, que durante décadas teve que conviver com a recessão e a hiperinflação, o que o tornou resistente à intempérie econômica e capaz de manter a cabeça fria mesmo antes de tomar as decisões mais difíceis. Essa característica, segundo Collins não faz parte do DNA da maioria dos empreendedores americanos e europeus.
Para o leitor que está em busca de fantasias fáceis, ao estilo Lula de ver a realidade, o destaque do especialista ao potencial do brasileiro pelo improviso e pela adaptação pode soar como um álibi e até como um reforço às velhas calendas de que somos o país do futuro.
Mas não é à-toa que Collins recebe U$ 60 mil por cada palestra que profere. Sem querer desfazer das esperanças dos países que vivem de esperança, como o Brasil, ele cobra das nações que quiserem se destacar no cenário internacional pela sua habilidade empreendedora, mais do que características inatas. Ele cobra escola para formar empreendedores, como acontece nos EUA.
Collins entende que o empreendedorismo é uma questão de formação, que exige boas escolas, um sistema financeiro com capital de risco, investimento em pesquisa, enfim. Ele se livra das teses fáceis, que fazem nascer empreendedores habilidosos de mágicas e clama por disciplina. Nesse quesito, segundo ele, os EUA estão muito à frente.
Para demonstrar isso Collins observa a facilidade de se abrir um negócio por lá. “Ninguém poderá impedir você de acordar amanhã de manhã e resolver pegar metade de uma peça de sua casa e começar uma empresa”. Destaca ainda a tolerância ao que chama de “falência honesta”.
Diante desses dois aspectos, o Brasil está anos luz de distância. Começa pela dificuldade para se abrir uma empresa e termina com a impossibilidade de fechá-la. A falência, por estas bandas, é vista como um fracasso. Lá, como um exercício para se andar com as próprias pernas. A falência não é o fim da picada, mas um processo para se estabelecer.
Em síntese, apesar de o empreendedor brasileiro estar tarimbado para sobreviver em ambiente de crise, o país não está preparado para estimular o empreendedorismo. O governo não pensa no assunto e a realidade destrói ilusões. Pelo que se deduz da entrevista, a saída para a crise global, apesar do elogio de Collins aos empresários brasileiros, não será encontrada no Brasil, nem na Índia.
Em síntese, será mais fácil o espírito empreendedor americano aprender a conviver com a extrema incerteza, do que o Brasil criar as condições para formar grandes empreendedores e se destacar no cenário internacional.
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