A principal crítica feita ao governo Lula foi pelo fato de ele não ter usado seu cacife político e sua popularidade para fazer as reformas estruturais que o Brasil tanto precisa. Perdeu uma grande oportunidade. Se ele tivesse levado mais a sério temas como logística, reforma tributária, reforma administrativa, reforma trabalhista, reforma previdenciária, reforma política ao invés de ter apenas se encantado com seus feitos sociais, além de popular, certamente teria colocado seu nome na história, entre os grandes líderes.
Ao se ater apenas à popularidade, fez a sucessora, como desejava. O fato é que o Brasil poderia ter avançado muito em sua capacidade de se desenvolver e se posicionar globalmente, mas Lula preferiu adiar essa missão. Agora temos que nos haver com Dilma Rousseff. Nada mais natural em uma democracia. No entanto, desde a campanha a candidata tem se apresentado como continuidade ao atual governo. Isso é preocupante.
Se Lula teve a sorte de administrar o país em um período de prosperidade, Dilma, como tudo indica, não terá a mesma oportunidade. Além disso, ela não tem os dons do encantamento de seu protetor, o que dificultará levar a conversa no jogo de cena. Mesmo assim, com a eleição encerrada, há sempre a esperança de que algum motivo novo leve Dilma a pensar seriamente na realidade brasileira, que não é aquela maravilha apresentada pelo marketing eleitoral, e parta para o ataque.
No duro, é difícil formular uma saída à nova presidente que não seja a submissão natural às forças tradicionais que costumam agir sobre o ocupante do cargo. Essa possibilidade faz com que o otimismo sobre o futuro imediato, em relação às mudanças estruturais, fique muito reduzido. Ou seja, as reformas de base podem acontecer, mas não acontecerão de maneira planejada, a partir de uma negociação propositiva, da ação de uma frente disposta ao trabalho duro, ao desafio, mas sim, com base no troca-troca de interesses oportunistas. O andar da carruagem do pré-governo leva a crer que a toada será ao ritmo do fisiologismo, de administrar interesses dos dois agrupamentos políticos mais fortes do momento: o PT e o PMDB.
Assim parecem estar sendo desenhados os próximos quatro anos. Temos assistido à movimentação das lideranças de ambos os agrupamentos para definir quem vai controlar o que, no Executivo e no Legislativo, nada mais, sem que os brasileiros possam contar com uma discussão honesta sobre projetos para o país, que se elevem acima das negociações políticas.
Logo nos aquecimentos, portanto, temos pouco motivo para alimentar esperanças sobre uma gestão Dilma austera, focada na competência e na produtividade. Os envolvidos no processo serão os mesmos, com os mesmos interesses e sem uma liderança disposta e capaz de romper com tudo isso.
Não se prega aqui uma revolução. Prega-se sim um choque de gestão, que retire o governo do atraso. Mas, como tudo indica, serão mais quatro anos de pouca novidade. Somados aos oito que se encerram, lá se vão mais de uma década só de jogo de cena. A economia interna melhorou? Sim. Mas o crescimento econômico não é sustentável. E quando vier a conta pesada, exigindo competitividade para o país gerar emprego e renda, nos veremos diante da verdade: que a estrutura continua frágil.
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