Como registraram os escritores da tragédia grega, semelhante a Prometeu, Sísifo encarnava na mitologia a astúcia e a rebeldia do homem frente aos desmandos divinos. Sua audácia motivou o castigo de Zeus, que o condenou a empurrar eternamente, ladeira acima, uma pedra que rolava de novo para baixo, sempre que atingia o topo da colina.
Sísifo sobe a encosta e do seu rosto/ verte o suor de seu esforço./ Rolando a pedra sempre para cima/ imagina um término para sua sina./ Sísifo, não sabes por ventura/ que habitas um inferno de procura?/ Pensas no fardo que te coube por Destino:/ levar a pedra, tua vida, ao alto do cimo./ Não te conformas de ser a vida pedra/ que o tempo todo se promete e não se entrega/ e nem se completa mesmo que tanto se prometa/ nem se explica por mais intensa a busca aflita./ Labutas nesta faina noite e dia/ enquanto alheio desta luta o tempo fia/ uma túnica que lhe serve de mortalha./ Inútil querer vencer esta batalha. [...]
Diante de um novo momento nacional, em que a presidente eleita, Dilma Rousseff, aceita o desmando do “deus Lula” de rever o retorno da CPMF, o empresariado se sente na condição de Sísifo. Como se a batalha anterior, que mobilizou todo o país para por fim ao tributo, tivesse sido em vão e a pedra rola novamente ao pé da colina.
Ao invés de o governo rever seus gastos, enxugar a máquina, pensar em reforma administrativa, repensar o Fundo de Participação dos Municípios (FPM), definir o destino da Emenda 29, que altera a participação da saúde no montante fixo dos tributos nacionais, o que parece vigorar é a insensatez. É o avesso da boa gestão.
Tudo bem que até agora houve apenas insinuações sobre a pretensão do governo de reimplantar o CPMF. Mas são insinuações que encontraram repercussão na imprensa e há, de fato, governadores, como Eduardo Campos, do PSB de Pernambuco, e o próprio Antonio Anastasia, do PSDB de Minas Gerais, que desejam a reedição da fórmula mágica para levantar recursos rápidos.
A sorte é Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de são Paulo (Fiesp), que encabeçou o esforço sisífico para derrubar na primeira batalha a contribuição, já se manifestou contrário à tese de ressuscitar o tributo e está disposto a ir novamente à luta, se necessário. Havia receio de que ele se rendesse à pressão federal por integrar o PSB, partido da base governista. Mas ele tem sido enfático em sua posição, “que vai além do partido”.
Todo mundo sabe que a saúde precisa de mais recursos. Mas não será assim, com impostos provisórios, que a situação se resolverá. Sem contar que o provisório se torna eterno e incide sobre os custos de produtos e serviços, pagos pela maioria da população. Em última instância, se Dilma vier em defesa da CPMF, estará contrariando sua proposta de campanha, de trabalhar pelo social, porque onera a produção e não resolve a Saúde. A sorte é que ainda há tempo de escaparmos desse sonho sem fim.
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