16 de nov. de 2011

O brasileiro é acima de tudo um otimista

Independente do ângulo analisado, a perspectiva para 2012 é de crise econômica. O desempenho do mercado este ano será menor do que o previsto, com redução do PIB de 4,5 para algo em torno de 3%, o que significa desaceleração em andamento. O Banco Central tinha essa informação e trabalha com um cenário pouco animador, tanto é que iniciou um ciclo de redução da taxa Selic e o ministério da Fazenda retomou algumas medidas macroprudenciais, como ampliação do crédito, para ver se evita o desaquecimento. Especialistas não descartam que a crise possa ter a mesma dimensão da que nos pegou em 2008, se não for ainda mais acentuada.

Mesmo assim, pesquisas indicam que as pequenas e médias empresas estão otimistas em relação ao futuro. Estão confiantes no mercado interno e veem no horizonte de médio prazo, com a chegada das Olimpíadas e da Copa do Mundo, fatores de estímulo. Sem contar que o nosso empresariado tem no DNA mecanismos naturais de defesa contra solavancos que, historicamente, são uma constante no país e não uma exceção. O país vive, portanto, um momento de contradições que não se eliminam.

Os fatores externos são ameaçadores. Os grandes centros econômicos não estão comprando nada, além de alimento e energia. A Europa parece ter entrado em um ciclo de estagnação que exigirá tempo para ser revertido. O mesmo acontece com os EUA. Sendo assim, a manufatura brasileira tem de conquistar consumidores asiáticos e latino-americanos, que também estão sendo influenciados negativamente pela crise dos países ricos. Além disso, o fabricante brasileiro precisa concorrer com o europeu e o americano, que buscam desesperadamente mercado fora de casa.


Se a previsão oficial de desaquecimento e a inflação em alta entram no lote de pontos críticos no front interno, o aumento do poder aquisitivo do trabalhador, os investimentos do governo em infraestrutura para as competições internacionais, a flexibilização do crédito e a queda do juro, são pontos favoráveis. A instabilidade, portanto, que deveria ser fator de desestímulo geral, não pega. Ou melhor, ainda não pegou.

Há um elemento adicional nesse jogo favorável ao empresariado. Estão se ajustando em termos tecnológicos e de caixa para se segurar caso a crise chegue. Isso mesmo. A competitividade, que envolve modernização do parque produtivo e enxugamento da equipe, foi incorporada pela média como ingrediente vital. Segundo levantamento da Fiesp e do Sebrae, o passo não está sendo maior que a perna, dando musculatura para eventuais problemas conjunturais. Isso tudo na contramão do governo, que faz de tudo para dificultar a competitividade nacional.

Por outro lado, o setor industrial que depende dos grandes centros econômicos para sobreviver está revendo sua estratégia, pois vive um momento delicado. Isso vale para bens de capital e produtos de alto valor agregado, por exemplo. Está difícil também para o setor metal mecânico que depende do setor sucroalcooleiro que, por falta de investimento em novas usinas no país, está numa encruzilhada. O álcool, devido à queda na produção, não consegue ser vantajoso em relação à gasolina, que tem seu preço controlado pelo governo. O Custo Brasil também pega todo mundo no contrapé.

Na síntese, o empresariado resiste, mesmo com um governo pouco disposto a fazer reformas modernizantes e alimentando medidas contraditórias que minam o livre mercado. A crise internacional, portanto, não pode vir acima da medida do suportável. Caso isso aconteça, só o título de campeão mundial na Copa poderá trazer novo álibi e acionar novamente a engrenagem. O brasileiro é acima de tudo um otimista por excelência.

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