22 de mar. de 2010

O INTANGÍVEL DA ECONOMIA CRIATIVA

Edição recente da revista Veja trouxe duas matérias sobre economia criativa que deixam evidente a força deste mercado, nos EUA. Mesmo em período de crise os americanos não deixaram de ir ao cinema. Avatar explodiu em bilheteria e a indústria cinematográfica caminha incólume às oscilações nervosas das bolsas. Steve Jobs, gênio da Apple, lançou recentemente o IPAD, um computador pequeno e cheio de inovações, na forma e aplicação, que pode ser mais um grande sucesso do gênero junto a um público jovem ávido por novidades.


Enquanto isso no Brasil, as pesquisas em ciência e tecnologia sofrem para escapar da burocracia do estado. Ou ficam presas nos escaninhos das universidades e institutos oficiais. Roberto Pompeu de Toledo tratou do assunto, também em artigo recente na mesma revista, apontando o descaso das autoridades para colocar velocidade no processo e direcionar os investimentos para estudos consistentes, que possam gerar riqueza.
A afirmação mais comum para justificar o fato de o Brasil estar no final da fila no ranking de pesquisas de ponta é a inversão de prioridades. A fonte geradora de riqueza, que são as empresas privadas, geralmente não têm seus próprios laboratórios e seus próprios pesquisadores. E as universidades e institutos oficiais, que canalizam os pesquisadores e os recursos, não costumam agir como fontes geradoras de riqueza para o mercado.
Por incrível que pareça, o diálogo entre as duas pontas – empresas e centros de pesquisas oficiais – ainda é incipiente, quando não irrigado por entendimentos distorcidos sobre suas relações. Enquanto isso, nos países desenvolvidos as universidades trabalham em sintonia com as grandes empresas, com resultados brilhantes para ambos. Quem ganha com isso é a sociedade, que se fortalece com bons empregos, salário melhor e, consequentemente, poder de consumo superior à média mundial, o que realimenta e fortalece o sistema.
Quando o governo brasileiro começa a se despertar para a realidade da economia criativa, a interpretação que faz nem sempre é das melhores, pois prefere o uso político de suas ações, que raramente fortalece o mercado. Vide BNDES, que tem se demonstrado disposto a investir na economia criativa, revendo a tese de bens tangíveis para lastrear suas apostas. Mas ao invés de simplesmente correr o risco, quer controlar o resultado e vincular a aplicação do recurso a algo no mínimo duvidoso. O discurso atual é: ampliar o acesso da classe D e E aos bens culturais.
Essa condicional é ideológica e passa por uma interpretação política, como se uma coisa estivesse essencialmente vinculada à outra. Ou seja, como se o dinheiro público só pudesse ser investido em bens que tragam um benefício politicamente correto que compense o investimento. É o caso, por exemplo, do desenho animado que ganhou o Canal 45 da TV à Cabo, Peixonauta. Será que se o conteúdo não fosse de preservação ambiental o BNDES teria apostado como apostou?
É sabido que o BNDES tem investido no cinema nacional. Mas não por se tratar de um mercado com alto potencial de crescimento. Mas por se tratar do cinema nacional, algo que está ainda lastreado a um pensamento ideológico, quase que nacionalista. Em muitos casos, esse tipo de visão é a mesma que trava a relação das universidades com as empresas: Como pode um recurso público ser direcionado ao desenvolvimento de uma tecnologia que será explorada comercialmente por uma grande empresa que produz açúcar e combustível para o mundo?
Esse pudor esquerdopata não existe nos países desenvolvidos, porque o entendimento é que o mercado, por si só, se desenvolvendo, a sociedade é beneficiada, pois se desencadeia uma onda nova de geração de riqueza. O processo multiplicador dessa onda abre as portas para que novas ondas ocorram e tanto os pobres como os ricos são convidados a participar, dependendo apenas da educação de cada e sua habilidade para que tirem proveito da situação.
Aqui, com o processo invertido, do governo querendo pegar o cidadão da classe D ou E no colo para levá-lo ao cinema, todo mundo perde. Em primeiro lugar perde a arte, que é obrigada a se curvar para fazer o gosto dos burocratas de plantão. Segundo, perde o mercado, porque arte dirigida é o caminho mais curto para resultados medíocres. Em terceiro, perde o cidadão, que terá seu tempo roubado por um assunto que não lhe interessa no momento e não resolve seu problema. Melhor seria se ele tivesse emprego, ganhasse bem para escolher o filme que quisesse e pudesse assim desenvolver sua cidadania sem ter que ser levado pela mão de ninguém.
As grandes empresas particulares, instaladas no Brasil, quando se vêm com dificuldade para dialogar com o governo para encontrar recursos, se abrem para investidores externos. É o caso da Cosan, maior produtora de açúcar e álcool do mundo, que já fez parceria para desenvolver novos combustíveis limpos e segue adiante seu projeto. Quem perde nesse caso? O governo, que fica patinando em sua visão arcaica, e o povo, que perde a oportunidade de ver seu país se destacando em um cenário de muitas riquezas. Mas que ainda são intangíveis para nós.

Nenhum comentário:

Postar um comentário